sábado, 2 de outubro de 2010

LIMPO E DIGNO

por Raimundo Palhano

Foi com muito entusiasmo e alegria que tomei conhecimento da decisão do Tribunal Superior Eleitoral de Brasília, proferida 30 de setembro passado, julgando improcedente o recurso que pretendia impugnar a candidatura do Dr Jackson Lago ao governo do Maranhão, impedindo que concorresse nas eleições do dia 3 de outubro próximo, com base na Lei da Ficha Suja.

A boa nova certamente aumentou a esquizofrenia dos que atualmente ocupam o Palácio dos Leões, mas, sobretudo teve um sentido restaurativo, ao refazer a tessitura biográfica de um dos mais dignos homens públicos da história política do Maranhão.

Havia na sociedade maranhense o temor de que o TSE repetisse a insanidade cometida em abril de 2009, quando retirou o mandato legitimamente conquistado por Jackson, com base em uma engenharia jurídica que muitos especialistas preferiram denominar de golpe pela via judicial.

Com a decisão, aquele Tribunal repara o primeiro dos dois danos impingidos ao ex-governador: o primeiro, que manchou a sua imagem pública com a pecha de “Ficha Suja” e o segundo, que deverá ser restaurado no segundo turno das eleições de outubro, que cassou o seu mandato de governador legitimamente eleito pelo povo do Maranhão.

Os Tribunais Superiores precisam estar cada vez mais onde a vida acontece, para que possam ajudar na construção de um mundo sem chaves, grades e algemas, conforme repete sempre a sabedoria popular. Por não estarem em sintonia com esses princípios, muitos magistrados não colocam a dignidade humana como uma das prioridades da vida. Só assim se explica a tentativa de sujarem uma das mais dignas personalidades deste Estado.

Defendo, como muitos, a idéia de que caberá à cidadania ativa e consciente do Maranhão fazer a segunda restauração dos danos causados ao ex-governador, justamente retornando-lhe o mandato injustamente tomado em abril de 2009. Sei que o tempo é curto para uma campanha como esta, mas não custa lutar com toda a garra do mundo.

Sinto que o processo eleitoral em curso tende a se agudizar nos próximos dias e horas, à medida em que as eleições vão se aproximando. Não se pode desperdiçar mais esta oportunidade de mudar as estruturas arcaicas da política e de suas instituições, focando plenamente as questões educacionais e econômicas. Reconheço que não foram suficientemente abordadas pelos postulantes, mas boa parte de nós sabe realmente quem reúne as melhores condições éticas e de coerência pessoal para levá-las a cabo no contexto da atual encruzilhada histórica maranhense.

Percebo que cada vez mais fica difícil o trabalho dos marqueteiros, justamente porque conseguiram despolitizar a política e, com isso, as “mercadorias” que buscam vender aos eleitores perdem a validade cedo, ou pela fadiga do poder ou por inexistência de talento pessoal. O jornalista Daniel Mendes desenvolveu uma boa tese sobre isso.

Esta circunstância, ainda que trágica, pode também ser vista como uma oportunidade de acelerar mudanças. O caso maranhense é típico na recorrência deste fenômeno. Não há renovação de quadros políticos e a política virou um picadeiro para exibicionistas e oportunistas. Reinventar e por ética na política passa a ser o maior dos desafios da sociedade inclusiva. Uma escolha consciente em outubro poderá colocar nos cargos do executivo e do legislativo uma camada dirigente com melhores condições de operar mudanças.

O Maranhão está vivendo, com toda certeza, uma transição, ainda que silenciosa para muitos. Não falo inspirando-me em quaisquer dessas fantasias ilusionistas que cairão dos céus ou de Brasília: refinaria, petróleo, gás natural, estrada de ferro e o que mais couber no saco de presentes.

Refiro-me à redescoberta do próprio torrão maranhense, que está deixando de ser visto apenas pelas lentes angulares de São Luís e começa a ser percebido como uma totalidade territorial complexa, projetando um interior cada vez mais consciente do seu peso para o desenvolvimento do Estado, e uma cultura de raiz que procede das suas entranhas, esquecidos e desprezados por décadas e que agora despertam e passam a incomodar.

A sonhada mudança política aqui tratada passará com certeza pelo enfrentamento dessa questão. Não é por outra razão o peso estratégico hoje atribuído à Região Tocantina, por exemplo. A velha política praticada pelas oligarquias de “apagar” os municípios já não se sustenta mais.

Por tudo isso, creio que a restauração ética, pessoal e pública, de Jackson Lago deve ser entendida como a vitória da dignidade na política, sobretudo na atual conjuntura vivida pelo país e pelo Maranhão, quando o voto consciente, que deveria se materializar na esfera pública é transformado, de forma grotesca, em arrastões puxados por trios elétricos.