Blog Raimundo Palhano
Temas de interesse: Políticas Públicas, Desenvolvimento e Tecnologias Sociais
domingo, 12 de julho de 2020
sexta-feira, 13 de dezembro de 2019
NOVOS DESAFIOS PARA A SUPERAÇÃO DA CRISE DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA: A Experiência dos Diálogos pelo Direito à Educação.
Por Raimundo Palhano
Falar do Brasil sem ouvir o sertão
É como estar cego em pleno clarão
Olhar o Brasil e não ver o sertão
É como negar o queijo com a faca na
mão...
Amar o Brasil é fazer
Do sertão a capital...
(Do Brasil, Vander Lee)
1. EDUCAÇÃO:
UM CONTEXTO EXIGENTE DE COMPETÊNCIAS.
Em matéria de vida social, o Brasil endógeno
é mais sertão do que litoral. A composição de Vander Lee, que serve de
epígrafe, toca fundo esta questão visceral à cultura brasileira em todos os
tempos. Além de sua avassaladora beleza melódica, coloca o tema em evidência, em
um mundo que olha fixo o global e permanece cego para olhar do umbigo para
dentro.
Educar
para desenvolver o sertão sempre foi desafiador. Sertão vem associado a
interior. Não é só clima. São várias metamorfoses. Vai de desertão a sertão,
facilmente. É a dimensão geralmente pouco valorizada do endógeno.
O
Brasil sempre foi litoral. Na colônia era o interior desconhecido, o local
distante do mar. Está ligado à identidade social brasileira. São clássicos os
trabalhos de Guimarães Rosa(Grande Sertão: Veredas), Euclides da Cunha(Os
Sertões), Graciliano Ramos(Vidas Secas).
A
expressão “contexto exigente de competências” vem sendo empregada na atualidade
para enfatizar os desafios trazidos por uma ordem mundial globalizada. Para a
realidade da educação significa indagar-se se os padrões em que se move e vem
sendo produzida podem assegurar à sociedade local uma possibilidade concreta de
realização humana e cultural neste novo contexto.
Não
resta dúvida que o sentido maior da política educacional praticada nos
Municípios continua sem o foco do comprometimento com o objetivo da qualidade.
As estruturas históricas que deram a formatação do modelo de educação pública
que se tem são muito sólidas e a sua demolição e reestruturação exigem mais
aliados e mais compromissos. Do nosso ponto de vista significa fazer funcionar uma verdadeira
“união nacional pela educação”, nos
moldes de um amplo acordo social pela efetividade da educação pública municipal,
principalmente.
Este
movimento deve começar pela resposta a uma pergunta-chave: educação básica de
qualidade para quem? A nossa resposta só pode ser uma: - para todos!
Isto
significa que as escolas públicas municipais deverão estar aparelhadas para
cumprirem o seu papel social. As escolas onde estudam os filhos das classes
médias e dos mais aquinhoados oferecem à sua clientela os melhores saberes
disponíveis na sociedade. As escolas onde estudam os filhos do povo, das
camadas despossuídas, não fazem o mesmo: pelo seu sucateamento ampliado, de
conteúdos e meios. Não oferecem um conhecimento, um saber, que prepare o filho
das camadas populares a ser gente, a ser cidadão protagonista.
Então
o compromisso pedagógico das escolas municipais é fazer com que os seus alunos
se apropriem dos conhecimentos socialmente produzidos, buscando eliminar as
diferenças educacionais responsáveis pelo fracasso escolar, tão forte nas
escolas públicas.
Um
outro dado a ser assimilado é que o engajamento neste acordo pela educação não
pode ser visto como um simples gesto de benemerência daqueles que se comovem
com a situação das camadas populares.
A
união pela educação no Brasil, e também no Maranhão, representa uma das mais
urgentes atitudes sociais para inibir as ameaças inexoráveis ao equilíbrio
social neste país, caso não se mude radicalmente os atuais padrões educacionais
do povo brasileiro, onde existem muitos milhões de analfabetos e analfabetos
funcionais; onde volumoso percentual das crianças de 0 a 6 anos estão fora da
escola; alguns milhões fora do ensino fundamental e outros tantos milhões de
jovens fora do ensino médio, apenas para citar os indicadores educacionais mais
conhecidos.
O
futuro do Brasil, do Maranhão e dos Municípios como civilização passa obrigatoriamente
pelo refazer do sistema de educação pública, de sorte a que se abram a todas as
crianças e jovens brasileiros as portas de uma educação dotada de qualidade e
de competência para adentrar plenamente nos desafios sempre crescentes do atual
milênio.
O
Brasil vive sua condição de sociedade estacionária, como boa parte dos
municípios do Nordeste brasileiro e das demais regiões subdesenvolvidas do
país. O passado glorioso e a era de ouro da economia local ficaram na
lembrança, sobreviventes nas relíquias arquitetônicas e culturais que
permaneceram fortemente concentradas nas cidades. Como resistir a um destino
que mantém vivo e prolongado o atraso desta sociedade? Como tecer uma nova
sociedade que faça do Brasil um lugar onde o desenvolvimento em escala humana
seja viável?
Há
mais de 22(vinte e dois) anos tenho sido protagonista ativo e militante convicto
da questão educacional do Brasil e do Maranhão. Pude revisitar, depois de tanto
tempo, alguns importantes territórios educacionais maranhenses, no contexto da implementação
dos “Encontros Regionais pelo Direito à Educação”, iniciativa de grande importância
política da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB, Seccional do Maranhão, apoiada
pela Comissão de Educação da OAB Feral, como contribuição ao enfrentamento dos
desafios da Educação Básica Brasileira, culminando com a efetivação do presente
evento em Brasília, neste momento em que o deserto de projetos e de ideias
assoma com força, e o deserto é infértil em todo o país.
Voltei
da viagem trazendo o sertão na mente e no coração, ao cumprir a agenda do
mencionado Programa, em cerca de cinco subseções regionais da OAB maranhense,
numa boa amostragem dos problemas educacionais recorrentes nos municípios
participantes, em sua primeira fase de implantação.
O maior dos impactos e a maior das surpresas
foi assistir novamente a um filme, em preto e branco, em várias ocasiões mudo, sobre
a situação atual da educação básica maranhense, cópia fiel do que presenciara ao
longo da experiência de mais de 20(vinte) anos atrás.
Síntese da Situação Atual
Em termos bem amplos, pode-se dizer
que muito precisa ser feito para estruturar e organizar a administração e as
finanças no interior das Secretarias Municipais de Educação. Entendendo-se, no
caso, a estrutura administrativa como um conjunto de unidades, departamentos,
divisões, seções e outros setores que compõem e dão forma à organização
educacional, indicando divisões básicas de trabalho e linhas de autoridade e
subordinação.
No que toca aos aspectos da gestão de
pessoas, nota-se que muito precisa ser feito ou corrigido, pois praticamente
não existem fixadas as diretrizes e os procedimentos relativos aos servidores
que atuam nas Secretarias e nas redes escolares, a não ser aqueles mínimos,
geralmente localizados na Prefeitura.
No que diz respeito à gestão financeira,
trata-se de uma das áreas mais desafiadoras, pois, no geral, as Secretarias ainda
não participam plenamente desse processo. A gestão financeira dos 25% das
receitas públicas vinculadas à educação, pelas Secretarias, simboliza um passo
firme na direção da autonomia. Lamentavelmente quem vem fazendo essa gestão são
os órgãos fazendários e administrativos das Prefeituras, que contratam
contadores externos para essas operações. São ainda poucas as Secretarias que
conhecem os procedimentos para realizar despesas, efetuar pagamentos, fazer
prestações de contas, realizarem compras de materiais, contratação de serviços,
enfim concretizarem os gastos necessários ao desenvolvimento da educação.
É fundamental que os dirigentes das Secretarias
possuam os conhecimentos básicos sobre as diretrizes orçamentárias
estabelecidas pela legislação, mesmo que não executem em seu âmbito as
operações de gestão financeira. Nestes casos as Secretarias não podem renunciar
à obrigação de, pelo menos, acompanharem e influírem nas decisões de ordem
financeira.
É preciso levar aos órgãos gestores da
educação municipal à cultura de que a gestão não se encerra apenas na dimensão
pedagógica, mas estende-se à administração geral, às finanças e orçamentos, à
busca de resultados efetivos na prestação de serviços, alargando definitivamente
a compreensão sobre o tema e certamente este fato produzirá resultados
positivos em muito pouco tempo.
O universo sem fim de problemas básicos, sejam
pedagógicos, infra estruturais e de planejamento e gestão, são fluentes e
recorrentes, desde priscas eras: Insuficiências
de creches; Limitação de oferta no atendimento da Educação Infantil; Evasão; Limitação
de oferta no Ensino Fundamental; Baixo rendimento escolar no Ensino Fundamental;
Evasão e repetência no Ensino Fundamental; Distorção idade x série; Exclusão social;
Analfabetismo; Limitações de oferta na Educação de Jovens e Adultos e Idosos; Evasões
na Educação de Jovens, Adultos e Idosos; Baixo rendimento escolar; Violência; Planejamento
e gestão educacional deficientes; Baixo conhecimento do Universo de Atuação; Ausências
de avaliações institucionais; Limitações do ensino formal para a formação do
cidadão (educação Integral); Insuficiências de infraestruturas; Inadequação de
Espaço/equipamentos; Insuficiências de material de apoio e suporte; Desestruturação
sócio – financeira familiar.; Baixo conhecimento sobre história
do município em termos sociais, econômicos, políticos e culturais; Senso comum
sobre como o poder é distribuído e ocupado no momento; Fraco conhecimento sobre
grau de autonomia geral do dirigente em relação ao sistema municipal de educação;
Inventário deficiente de bens móveis e imóveis; Limitações dos números da
demanda escolar; baixo conhecimento sobre o orçamento, fluxos financeiros; Debilidades
na organização administrativa e pedagógica da rede escolar. Ainda poderia
continuar ampliando a lista...
Buscando-se uma síntese das emergências
presentes neste diagnóstico da atualidade, alguns são fundamentais enfrentar:
Efetiva Autonomia dos Sistemas Municipais de
Educação
Os objetivos da educação
pública não se concretizarão sem uma Secretaria Municipal de Educação possuidora de autonomia para gerir os seus
recursos financeiros, materiais e humanos, bem como para coordenar a política
pública de educação municipal. Autonomia lastreada na competência e
legitimidade de seus gestores e atores e no compromisso com a elevação da
qualidade do ensino público. Autonomia para transformar em letra viva o que
está configurado na LDB, nos Planos Municipais e no Plano Nacional de Educação,
os quais atribuem aos sistemas municipais de educação prerrogativas de entes
federativos autônomos. Autonomia para demarcar uma nova forma de conduzir a
política pública municipal, substituidoras
dos métodos arcaicos sedimentados no clientelismo e no coronelismo.
A influência do clientelismo
na educação é também antiga. João Monlevade, no seu “Educação Pública no
Brasil: Contos e Descontos”, publicado
em 1997, mostra que no período de 1758 a 1834,
quando inicia-se o processo de expulsão dos jesuítas pelo Marquês de
Pombal, as Câmaras Municipais passaram a indicar os professores, adotando-se
uma solução que substituía a competência jesuítica pela subordinação das
escolas às autoridades constituídas e aos interesses dos grupos políticos
governantes.
Assim, a implementação de um
projeto educacional lastreado na autonomia global do sistema será sem nenhuma
dúvida, algo inovador e os seus resultados certamente contribuirão para
transformar a realidade da educação pública.
Financiamento
As ações a cargo da educação
pública serão financiadas por três fontes principais: com recursos, sendo o
novo FUNDEB, o principal mecanismo financiador da Educação Local e que tem
possibilitado a ampliação do trabalho institucional em todas as frentes; com os
10% restantes dos impostos vinculados ao Fundo; mais os 25% dos outros impostos
não vinculados, transferidos pelas Prefeituras Municipais; e com recursos de
convênios oriundos do FNDE/MEC e demais agências financiadoras nacionais e
estrangeiras.
Além
disso, continua faltando o pensar grande, pensar o novo, naquilo que ninguém
pensou ou pensou e não fez, deixando a mente mais livre para viajar mais longe
e novas ideias surjam e acelere as mudanças que deverão ser feitas. O debate
sobre o novo FUNDEB, por exemplo, não evolui. Estarrece a falta de horizontes,
considerando que 2020 é amanhã e o Fundo pode acabar.
Reorganização do Sistema Escolar
A escola é o núcleo vital do
projeto “Diálogos pela Educação”. Pressupõe uma escola viva, autônoma e
irradiadora de cultura. Uma escola plenamente democrática e participativa, na
qual professores, alunos, técnicos e comunidade se entrelaçam em um projeto
comum, voltado à formação de um homem novo, de um cidadão expandido
socialmente. Requer, para tanto, um novo desenho estrutural e organizativo. Um
modelo composto de um colegiado escolar representativo da comunidade interna e
externa; uma direção competente técnica e pedagogicamente e que seja
referendada pela comunidade escolar; um serviço de orientação pedagógica capaz
de ampliar os horizontes da formação dos alunos; um setor administrativo que
ofereça o melhor apoio possível ao funcionamento da escola; e que viabilize a
criação de associações de pais e mestres e de grêmios estudantis, extremamente
úteis na tarefa de transformar a escola
em agente efetivo de mudanças contextuais.
Conteúdos Curriculares Mais Líquidos do
que Sólidos
Precisa ser único tanto para
o campo, como para a cidade naquilo que corresponder aos parâmetros
curriculares da Base Comum Nacional e contextuais, de modo a que a escola
municipal entre em sintonia com o mundo atual e suas tendências. Será também
específico pela incorporação dos elementos sociais e históricos da cultura local,
na perspectiva da construção de conhecimentos que revitalizem a sociedade local
e seus valores de origem, dando especial ênfase à cultura popular, seus vultos
e tradições. O desenvolvimento curricular será feito na articulação entre
teoria e prática, a ponto do cotidiano escolar transformar-se em algo vivo, com
troca permanente de saberes, capaz de atribuir
à escola um papel relevante em seu contexto regional. Precisa também romper
com o atraso do ensino rural, quase totalmente executado pela rede municipal,
lastreando-se na valorização do professor rural, na mobilização da comunidade,
no oferecimento de melhores condições físicas e materiais para o exercício da
atividade educacional e na adoção de um currículo que articule teoria e
prática, pugnando pela formação de cidadanias aparelhadas para uma vida social
produtiva.
Formação e
Qualificação Docente
A chave do avanço da nova
educação pública está na garantia de uma formação permanente e continuada do
professor municipal. Construir uma nova escola, uma nova pedagogia, com valores
e objetivos claramente definidos, requer um quadro docente dotado de
instrumentos e requisitos técnicos e pedagógicos capazes de viabilizar a
empreitada. Sem professores formados em conteúdos e comprometidos ideológica e
socialmente com o projeto de mudança nada será alcançado. Precisa-se de uma
espécie de “escola do professor”, para dar suporte a este objetivo, lugar onde os professores da rede serão treinados,
capacitados, e onde também trocarão saberes, experiências, conhecimentos humanos e projetos
alternativos. Importante um Núcleo de Tecnologias Educacionais, voltado à
potencialização dos recursos gerados interna e socialmente.
Planos de Carreira e Remuneração
Os atuais padrões
implodiram. Não são poucos os sistemas municipais que comprometem mais de 100%
dos recursos do FUNDEB com o pagamento da folha de pessoal e encargos. Na linha
da valorização do professor municipal insere-se o PCR, exigência da Lei e
compromisso das atuais gestões, por constituir-se em requisito indispensável e
insubstituível à afirmação social da escola pública, pelo que representa como
fator de autoestima aos docentes sujeitos do processo. O corpo docente
necessita de um plano de carreira que abra novos horizontes profissionais, que
valorize a carreira do magistério municipal e assegure uma remuneração digna
aos profissionais do ensino.
Espaços Físicos
Substituir, gradativamente,
todas as escolas inapropriadas ao ensino fundamental, localizadas tanto na zona
rural como nas periferias da cidade é a meta básica do planejamento dos espaços
físicos educacionais. Ainda são numerosas as palhoças e casas de taipa, sem as
mínimas condições de trabalho, utilizadas como escolas municipais. No seu lugar
serão feitas construções em alvenaria, dotadas de uma ou mais salas, com
dependência para guarda do material escolar e do professor, com banheiros para
os alunos e área delimitada. Serão modelos simples e funcionais de construção,
no sentido de associar aquelas edificações aos objetivos e finalidades do
Projeto Político-pedagógico municipal e de sua rede escolar.
Recursos
Didáticos-Pedagógicos
Professores e estudantes da escola
pública precisam dispor dos recursos didáticos e pedagógicos básicos. Atuando
em espaços físicos mais adequados, terão disponíveis os recursos que
assegurarão um ensino-aprendizagem mais eficaz e proveitoso para professores e
alunos. Além disso, em decorrência do seu projeto pedagógico, centrado na
articulação teoria e prática, espera-se que sejam produzidos recursos didáticos
e pedagógicos alternativos, extraídos do contato direto como a natureza e o
meio-ambiente, bem como do intercâmbio com a sociedade inclusiva, enriquecendo
assim as bases teóricas e metodológicas dessa nova pedagogia.
Articulação
com Outros Sistemas
Para a política pública de
educação de base local evoluir é preciso que se nutra das articulações com
outros sistemas da política pública, tanto governamentais, como
não-governamentais. Com o Sistema de Saúde, com a finalidade de levar ao espaço
escolar serviços de atenção primária de saúde aos estudantes e, ao mesmo tempo,
introduzir no calendário escolar temas transversais sobre a matéria, capazes de
contribuir na formação do jovem e de sua família. Com o Sistema de Agricultura
estabelecerá parceria voltada ao desenvolvimento de disciplinas da área
agrícola e pecuária, geralmente propostas pelos Sindicatos dos Trabalhadores
Rurais e aprovadas pelas Câmaras Municipais, baseado na combinação de conteúdos
específicos com práticas agrícolas, tendo-se como um dos objetivos nucleares a
formação de uma nova mentalidade para os futuros trabalhadores rurais, voltada
à superação dos anacrônicas métodos de cultivo do solo por métodos científicos
e que preservem a natureza. Com os órgãos que compõem o Sistema de
Meio-Ambiente implementar a área de educação ambiental, da mais urgente
relevância, tanto para a zona urbana, como para a rural, tendo como foco a
sobrevivência do ambiente, vital para o futuro imediato. Com o Sistema de
Cultura deflagrar programas de iniciação teatral, poética e musical,
manifestações estas presentes e valorizadas pela cultura local, as quais
poderão contribuir vigorosamente para o seu soerguimento e revalorização, o que
fará da escola um espaço cultural reconhecido socialmente.
2. UM CONVITE AO ENFRENTAMENTO
Crença
no Futuro Urgente
O futuro urgente é a nossa
capacidade de fazer com que os nossos projetos se materializem. A vida, o
mundo, o cotidiano, não se realizam sem transcendências e sonhos, por mais
áspero que seja o dia a dia. A humanidade
não sobrevive sem projetos e nem aspira a eternidade se não for capaz de tecer
o novo e enlaçar-se no desejo de ultrapassar limites estabelecidos.
A ideia de uma nova educação
nasceu dessa crença. Mais do que em qualquer época do passado, a Educação
Brasileira e sua escola pública vêem-se desafiadas e ao mesmo tempo carregadas de
problemas estruturais, muitos dos quais crônicos e petrificados pela própria
maneira como, historicamente, vem sendo conduzida a política pública de
educação no país.
Mais do que em qualquer
época, no entretanto, não se acreditou tanto no poder da educação como condição
para ultrapassar o atraso social como hoje.
A nova educação, sem quaisquer pretensões
messiânicas, crê nesta possibilidade. Acredita na possibilidade de inserir o
Brasil, o Maranhão, os Municípios no mundo que está aí, que também precisa
mudar, principalmente pelo fim do poder e da supremacia absoluta do mercado
competitivo, pelo emergir de um novo desenvolvimento social, com menos
desigualdades e mais oportunidades para os excluídos e desclassificados da
sociedade.
É este o sentido do Programa
proposto pela OAB do Brasil, em seus “Diálogos pelo Direito à Educação”.
Seus principais norteadores
estão identificados a seguir:
Principais
Desafios
n Construção de uma
competência educacional local sustentável, democrática e autônoma.
n Desenvolvimento de
uma nova municipalização educacional centrada na autonomia dos sistemas
municipais de educação e das escolas.
n Planejamento e gestão
participativos das política públicas educacionais municipais.
n Reformulação do
modelo de financiamento da educação municipal.
n Horizontalização dos
procedimentos ligados à dinâmica do regime de colaboração entre
união-estado-municípios.
Principais Problemas
n Baixa estruturação
dos órgãos e instituições responsáveis pela gestão da educação nos municípios.
n Autonomia restrita
das Secretarias e Escolas
n Escassez de projetos
político-pedagógicos.
n Reduzido número de Recursos
Humanos capacitados para administração e gestão política e pedagógica.
n Retrocesso nas
políticas de valorização do magistério.
n Descontrole acentuado
da qualidade dos programas de capacitação e formação docente.
n Baixíssima
efetividade do controle social sobre a administração dos recursos da educação.
Superação do Modelo Histórico de
Municipalização Educacional
Ausência de
estruturação e organização técnico-administrativa.
Inexistência de
projeto pedagógico.
Descontinuidade
administrativa.
Desautonomia
gerencial, de planejamento e gestão.
Carência generalizada
de recursos humanos administrativos. técnicos e pedagógicos.
Subordinação aos
interesses políticos.
Desenvolver um Novo Processo de Municipalização Educacional
Gerar competências técnicas e
pedagógicas em nível local.
Implantar planos de
carreira e remuneração sustentáveis.
Investir na
implantação dos sistemas municipais de educação.
Estruturar e
organizar tecnicamente as secretarias municipais de educação.
Implementar e
fortalecer conselhos consultivos, deliberativos, de direitos e de controle
social.
Convocar e mobilizar a comunidade
local para a causa da educação.
Pensar e agir como reinventores da educação pública local.
Formalizar as medidas através de projetos aprovados pelas Câmaras
Municipais.
Apoiar e revigorar a UNDIME nos Estados e Nacionalmente.
O Sentido da Municipalização Ativa
n Adequada estruturação
dos órgãos e instituições responsáveis pela gestão da educação nos municípios.
n Autonomia ampliada
das Secretarias e Escolas.
n Fim da escassez de
projetos político-pedagógicos.
n Ampliação do número
de RH capacitados para administração e gestão política e pedagógica.
n Avanços crescentes nas
políticas de valorização do magistério.
n Fim do descontrole
acentuado da qualidade dos programas de capacitação e formação docente.
n Elevada efetividade
do controle social sobre a administração dos recursos da educação.
n Compromisso radical
com a autonomia da educação municipal.
n Adoção da gestão
democrática em todos os níveis.
n Afirmação da
qualidade social dos sistemas públicos de educação.
n Defesa de políticas
abrangentes de financiamento da educação básica.
n Ampliação do controle
social sobre o gerenciamento dos recursos da educação.
n Elevação do padrão
cultural, técnico e político dos Dirigentes e Profissionais da Educação.
Erros que não podem se repetir
Adotar a pedagogia
normalizadora como regra.
Introduzir reformas e
modelos pedagógicos vindos “de cima”, friamente, sem a participação da
comunidade educativa.
Aceitar a ideia de
que se está em um beco sem saída. Lembrar que “a história é um processo de
permanente articulação entre o necessário e o incerto”.
Acreditar que para
mudar o mundo é preciso adotar o “narcisismo pedagógico” das outras gerações.
Atingir a Plenitude Federativa
Impossível atingir-se o planejamento e a
gestão educacional autossustentados sem a pré-existência de uma plenitude
federativa, caracterizada pela autonomia dos municípios, cuja direcionalidade
provenha da base social.
Ações Estratégicas
1.
Uma gestão de qualidade é
indispensável
2.
Enfrentar os desafios da
gestão pedagógica para a educação do campo
3.
INSTITUCIONALIZAÇÃO DE
SISTEMAS MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO, envolvendo todos os seus
componentes essenciais, como, Conselhos Municipais de Educação, organização e
gestão dos órgãos municipais de educação( rede municipal de ensino e demais
órgãos), projetos político-pedagógicos, planos de desenvolvimento das escolas,
Plano Municipal de Educação, conselhos de acompanhamento e controle social,
normas e legislação, orçamento e finanças, planejamento estratégico
participativo, etc
4.
REFORÇO A PROJETOS
INSTITUINTES, compreendendo o apoio a iniciativas locais
que se revelam exitosas no campo da inclusão educacional e que sejam
reforçadoras da autonomia dos sistemas municipais de EDUCAÇÃO.
5.
INCENTIVO À GESTÃO
COMPARTILHADA, voltado à formação de redes de gestão
solidária ou de consórcios intermunicipais que facilitem e viabilizem a
execução de planos e programas de interesse comum, em campos como formação
inicial e continuada de professores, assessoramento técnico-pedagógico, etc.
6.
IMPLANTAÇÃO DE UM PROGRAMA
PERMANENTE DE FORMAÇÃO E CAPACITAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS,
voltado ao apoio pedagógico, técnico e administrativo dos sistemas municipais
de ensino que forem se estruturando.
7.
UNIVERSALIZAÇÃO DE CONSELHOS
DE DIREITOS DA CRIANÇA E CONSELHOS TUTELARES, com vistas a reforçar a
participação da cidadania e da sociedade civil na gestão e fiscalização das
políticas públicas.
8.
Estimular as Universidades da
região a investirem em programas de pesquisa e extensão, tendo como linhas
temáticas a questão do fortalecimento institucional da educação básica
municipal.
9.
Investir forte em
institucionalidades e em tecnologias de gestão e informação. O pauperismo de
quase todas as Secretarias municipais deixa evidente que a disponibilidade de recursos
é vital para que os objetivos do Programa sugerido pela OAB sejam plenamente
cumpridos;
10.
Reeducar o poder local, ainda
hoje coronelístico, oligárquico e centralizador. Qualquer observador atendo reconhece
de pronto que, se não houver a reforma do poder local, da política, o
desenvolvimento da educação básica municipal é uma impossibilidade
institucional;
11.
Controlar o futuro, ou seja,
não perder de vista o planejamento institucional, utiliza-lo como ferramenta
insubstituível, pois o desenvolvimento da educação como política pública de
base municipal não pode mais permanecer prisioneira do cotidiano, da pressão do
dia-a-dia;
12.
Nunca perder de vista que é
preciso construir os alicerces de uma nova cultura: a cultura da Democracia.
Homens sensíveis como Guimarães Rosa, que
dizia que mestre é aquele que, de repente, aprende; ou como João Cabral de Melo
Neto, com sua advertência de que um galo sozinho não tece uma manhã, reforçam a
máxima freireana, segundo a qual, ninguém educa ninguém, ninguém educa-se
sozinho, educam-se, sim, uns aos outros.
Educação portanto só faz sentido se for
entendida como um conjunto de processos voltados para a humanização permanente
de homens e mulheres, começando pelas crianças.
O vazio de perspectivas evidenciado no
início tende a ser ocupado por um retorno a um certo messianismo educacional,
contendo muitas defasagens em relação às verdadeiras necessidades e desejos
sociais. É preciso muita atenção a isto.
A aproximação da Universidade à educação
básica municipal é um reforço na luta contra o atraso. Não é mais possível
repetir dogmas nem muito menos acatar visões que induzem ao determinismo e ao
fatalismo.
Para a educação, segundo o pensamento
lúcido de Célia Linhares, não basta ocupar os lugares já prontos, importa
reinventá-los como uma esperança no futuro e na própria humanidade. Para a
educadora, precisa-se, mais do que nunca, de uma educação escolar que seja
capaz de nutrir sujeitos no exercício de imaginar e realizar mundos novos.
Assinar:
Postagens (Atom)