por Raimundo Palhano
Em
meio à frenética profusão de escolas emergentes que se observa no Brasil atual,
em um espectro que vai da Escola Sem Partido à Escola de Ensino Doméstico,
surge mais uma, sem pé e nem cabeça, que me parece poderia ser chamada de
Escola Disparate.
Cheguei
a essa conclusão ao ler a entrevista do Ministro da Educação do Brasil, um professor,
concedida a periódico de circulação nacional, na qual taxava a nós
brasileiros de reles canibais, pois, quando em viagem, surrupiamos tudo dos hotéis,
e até mesmo o assento salva vidas dos aviões.
Achei, de imediato, que fosse mais uma fake news, tão em moda, ou uma piada de mau
gosto. Segundo a explicação, carregamos tudo que nos aparece pela frente e que não
nos pertence. Somos um mix de canibais, antropófagos e predadores.
A
nova pedagogia que o Ministro imagina para o Brasil deverá se fundamentar nesses
princípios e ideias e o seu objetivo é civilizar a cabeça brasileira. A Escola
que o Brasil precisa, segundo a Autoridade, passará, fatalmente, pela descanibalização
de Macunaima.
Se
isso for verdade mesmo, ainda tenho dúvida, não duvido, por outro lado, que o
tema da redação do próximo Enem será discorrer sobre uma questão das mais candentes:
“Jack, o estripador, teria sido um canibal ou um antropófago?”.
E
não adianta buscar explicações no Movimento Antropofágico de Oswald e Tarsila,
que propunham uma identidade nacional para a cultura brasileira. O Jack, para
responder à pergunta, é aquele que aterrorizava os arredores de Londres em 1888,
pelos crimes inacreditáveis.
Outro
aspecto da entrevista desatinada, que me feriu o coração, foi a composição de
intelectuais e educadores que formariam o pantheon brasileiro daquela Autoridade. Insinuou,
com a maior convicção, que seria mais adequado o Olavo de Carvalho ocupar o
lugar de Paulo Freire.
Até
ontem não imaginava que seria possível alguém, por mais genial que pudesse ser,
tentar apagar a História com esponjas molhadas.
A
insensatez estava em muitos lugares daquela reportagem jornalística. Faca nos
dentes cerrados para enfrentar o marxismo, ainda hoje a maior das utopias
humanas; a universidade das elites e para os iluminados, tendo como o seu maior
problema o ANDES; entre outros pontos de vista no mínimo surrealistas.
Não entendi a falta de compaixão, para não
dizer de respeito, para com o Cazuza, a
quem a cultura brasileira contemporânea e milhares de jovens tanto reverenciam.
O Ministro, ao valorizar o seu entendimento próprio sobre o que é liberdade,
desqualificando o do artista é, no mínimo, um despropósito, incabível em
autoridades de porte ministerial. De Rousseau a Cazuza, mesmo passando por
Renato Russo, ainda não sabemos o que é ser livre. “Que país é este?” Que
pedagogia é essa?
Confesso
que ando muito desorientado. Vejo o mundo todo e o nosso país numa espécie de
desatino generalizado. Sinto na pele e na alma um desassossego com os sinais do
retrocesso.
As ideias sobre os problemas educacionais são desalentadoras,
justamente em um momento em que andar para a frente poderia ser uma esperança.