por Raimundo
Palhano
“O
que eles não sabem, o que jamais aprenderão,
é que
no meu lugar milhares se levantarão
para
combater o atraso e a mentira...”
Jackson Lago
Em 257 páginas,
organizadas e embelezadas por mãos de artesãos cuidadosos, que vão além dos
cinzéis delicados de Jhonatan Almada, do engenho de Aziz Santos e tantos outros
escultores da liberdade, o Instituto Jackson Lago – IJL acaba de publicar o
livro Governo Jackson: O Legado, difundido
quase que simultaneamente em Imperatriz e São Luís, no final de setembro de
2013, cidades que marcaram a vida pública do seu Patrono e Inspirador.
Na retaguarda e na linha
de frente, ao mesmo tempo, a figura singular de Clay Lago, viúva do
ex-governador e presidente do Instituto, responsável direta pela façanha de dar
vida, em um prazo extremamente curto, a um projeto institucional de grande
magnitude, difícil de concretizar em contextos como o maranhense, submetidos cotidianamente
a desafios gigantescos nos aspectos políticos, sociais e econômicos. Passar a
limpo a realidade maranhense e as suas circunstâncias, numa perspectiva de
fomentar o contrapoder popular e democrático é algo dificílimo e enormemente
penoso.
Nesses seus menos de dois
anos de vida, o IJL já se encontra devidamente formalizado, com sede provisória
bem estruturada; instituiu um padrão de funcionamento estável e regular da sua
diretoria; manteve articulada a militância mais próxima e atrai novos
parceiros; realizou debates públicos do mais alto nível, com personalidades
como Marco Antonio Villa, João Pedro Stédile e Beatriz Bissio; publicou
revista, livro e, principalmente, avançou no mapeamento do acervo documental,
iconográfico e histórico a respeito da trajetória do Patrono, destacando-se a elaboração
de um plano de ações estratégicas, que culminará com a inauguração, em prazo
não muito distante, de um centro cultural à altura do Legado e das necessidades
de desenvolvimento e emancipação político e cultural do povo maranhense.
O livro sobre o Legado do
governo Jackson Lago chega a tempo de evitar que se apague da memória coletiva
a verdade da sua gestão à frente do Executivo. Em tempo algum da formação
maranhense se tem conhecimento de uma orquestração política tão eficaz, voltada
exclusiva e impiedosamente para apagar da memória do povo um período marcante
da história política local. Igor Lago, filho aguerrido e zeloso guardião da
obra do ex-governador, a esse respeito se posiciona na orelha do livro em
referência, com toda a propriedade: “um governo plural tão combatido, mesmo
antes de assumir; tão agredido e sabotado, durante; e, tão desdenhado, após seu
fim...”
O Legado não é uma
apologia infundada, nem muito menos um incenso apagado e indolor. A
matéria-prima com a qual se nutre e fundamenta decorre das mais distintas
latitudes de seu governo, produzida por atores sociais e políticos que vislumbraram
ali a oportunidade de virar a página da história, em uma sociedade dominada por
senhores e coronéis.
Não se trata de um
relatório administrativo puro e simples. O Legado deve ser lido como uma carta
de navegação, como um relatório de viagem rumo a um Maranhão desejado por
legiões de maranhenses que, em distintos tempos existenciais, sonharam com a
mudança de um modelo de sociedade que favoreceu apenas aos seus mandatários e
donatários.
É um mergulho no mar dos
Sargaços, com todo o seu simbolismo e dualidade. Se para os antigos navegantes
aquele mar acolhia bestas marinhas e monstros assustadores, que se moviam
lentamente entre as embarcações dos navegantes; para outros, felizmente, é
também a vitória da ousadia de um timoneiro, seja Colombo, seja Jackson, que
abriu as portas do Novo Mundo, singrando um mar tenebroso e sem vento.
Como toda carta de
navegação requer do navegante que penetre nas entranhas do mapa. Com toda
certeza encontrará, aqui e ali, fantasmas e sonhos, natural quando se busca
reinventar uma sociedade pisoteada em sua dignidade humana ao longo dos tempos.
Depois do Legado, por mais
insanos que sejam os detratores, não se poderá mais dizer que nada foi feito
pelo Governo Jackson. Não se poderá mais acusá-lo de incompetência e omissão,
mesmo sob a mais feroz das críticas.
Se inconformados ainda
houver, mesmo dentre aqueles que merecem todo o respeito pela honestidade
intelectual, o livro registra a trajetória de um político único e exemplar que
resistiu bravamente e lutou até a morte por suas crenças e devoção ao povo da
sua terra. Por tudo isso é uma obra para hoje e para a posteridade.