quinta-feira, 5 de setembro de 2013

BOM DIA, VICTOR ASSELIN,

por Raimundo Palhano


Recebo, com muito pesar, o comunicado de sua viagem. Viagens sem volta são sempre sofridas. Fiquei abatido e tomado de saudades. Por isso demorei a responder ao seu e-mail.

Difícil dizer alguma coisa quando pessoas como Você decidem queimar os navios e partir. Você deixa um grande vazio em nosso meio e no coração dos que desfrutaram de sua presença. Muita gente da minha e de tantas outras gerações de maranhenses receberam sua influência benfazeja.

Dê-nos um sinal sobre o seu esconderijo. Sei que Você se misturou à terra, à água e ao fogo e continua construindo esperanças celestiais. Mesmo que não queira passar o seu novo e-mail, peça-o emprestado a um dos seus anjos e não deixe de me enviar suas inspiradas mensagens. Tenho todas as que me enviou ultimamente arquivadas, e sempre as leio para escapar dos momentos de solidão e dos desassossegos.

As coisas estão viradas e virando por aqui. Vamos precisar muito de sua coragem e destemor. Não é fácil mudar os desequilíbrios sociais em contextos marcados por costumes arraigados e padrões culturais cristalizados e elitistas.

A realidade em volta da esfera política parece ser uma conspiração contra a dignidade humana. O rebanho está desgarrado e caminhando em direções incertas e perigosas. Impossível atravessar o rubicão sem enfrentar e vencer caminhos tortuosos e procelas devastadoras. O sinal está fechado, as saídas nebulosas e a bússola dos caminhantes perdeu o magnetismo.

Continuo acreditando na beleza, na bondade e no bem, a despeito dos pesadelos mais frequentes. Sobre a possibilidade de uma sociedade justa e boa para todos tenho feito um esforço incomum para não desistir de acreditar. Creio também que para alcançar tudo isso é preciso muita fé e coragem, muito carisma, muita mística, como Você gostava de dizer.

Aí do alto, ou do ventre da terra, seria importante que Você escrevesse mais um livro para os muitos que temem verem suas crenças e sonhos serem grilados, subsumidos aos apetites do comércio de mercadorias.

Conheci o Canadá, seu lindo país, faz anos. Tinha interesse em visitar a terra de missionários canadenses excepcionais, pelo muito que fizeram, por décadas, pelo Maranhão e seu povo mais despossuído, com os quis nutri admiração e amizade.

Posso afirmar que nesse tempo todo se construiu um verdadeiro e singular encontro de civilizações, tendo sido Você, sem a menor dúvida, a maior e mais fecunda fonte de inspiração e o maior e mais efetivo exemplo de resistência, perseverança e luta.

Termino aqui o meu lamento e recomeço agora a minha esperança na ressurreição de sua mística em favor da educação e da libertação do povo maranhense.

Peço-lhe, por fim, que não deixe de me enviar aqueles e-mails surpreendentemente ternos e carregados de coragem que Você me enviava, mesmo sabendo que a hora da partida havia soado.


Com todo o meu carinho e afeto.

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