por Raimundo Palhano
Recebo, com muito pesar, o comunicado de sua viagem. Viagens sem volta são sempre
sofridas. Fiquei abatido e tomado de saudades. Por isso demorei a responder ao
seu e-mail.
Difícil
dizer alguma coisa quando pessoas como Você decidem queimar os navios e partir.
Você deixa um grande vazio em nosso meio e no coração dos que desfrutaram de
sua presença. Muita gente da minha e de tantas outras gerações de maranhenses
receberam sua influência benfazeja.
Dê-nos
um sinal sobre o seu esconderijo. Sei que Você se misturou à terra, à água e ao
fogo e continua construindo esperanças celestiais. Mesmo que não queira passar
o seu novo e-mail, peça-o emprestado a um dos seus anjos e não deixe de me
enviar suas inspiradas mensagens. Tenho todas as que me enviou ultimamente arquivadas,
e sempre as leio para escapar dos momentos de solidão e dos desassossegos.
As
coisas estão viradas e virando por aqui. Vamos precisar muito de sua coragem e
destemor. Não é fácil mudar os desequilíbrios sociais em contextos marcados por
costumes arraigados e padrões culturais cristalizados e elitistas.
A
realidade em volta da esfera política parece ser uma conspiração contra a
dignidade humana. O rebanho está desgarrado e caminhando em direções incertas e
perigosas. Impossível atravessar o rubicão sem enfrentar e vencer caminhos
tortuosos e procelas devastadoras. O sinal está fechado, as saídas nebulosas e a
bússola dos caminhantes perdeu o magnetismo.
Continuo
acreditando na beleza, na bondade e no bem, a despeito dos pesadelos mais
frequentes. Sobre a possibilidade de uma sociedade justa e boa para todos tenho
feito um esforço incomum para não desistir de acreditar. Creio também que para
alcançar tudo isso é preciso muita fé e coragem, muito carisma, muita mística,
como Você gostava de dizer.
Aí
do alto, ou do ventre da terra, seria importante que Você escrevesse mais um
livro para os muitos que temem verem suas crenças e sonhos serem grilados, subsumidos
aos apetites do comércio de mercadorias.
Conheci
o Canadá, seu lindo país, faz anos. Tinha interesse em visitar a terra de
missionários canadenses excepcionais, pelo muito que fizeram, por décadas, pelo
Maranhão e seu povo mais despossuído, com os quis nutri admiração e amizade.
Posso
afirmar que nesse tempo todo se construiu um verdadeiro e singular encontro de
civilizações, tendo sido Você, sem a menor dúvida, a maior e mais fecunda fonte
de inspiração e o maior e mais efetivo exemplo de resistência, perseverança e
luta.
Termino
aqui o meu lamento e recomeço agora a minha esperança na ressurreição de sua
mística em favor da educação e da libertação do povo maranhense.
Peço-lhe,
por fim, que não deixe de me enviar aqueles e-mails surpreendentemente ternos e
carregados de coragem que Você me enviava, mesmo sabendo que a hora da partida
havia soado.
Com
todo o meu carinho e afeto.
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