por Raimundo Palhano
Acaba de sair das máquinas de fiar
livros, a edição impressa do primeiro volume da Biblioteca Básica Maranhense –
BBM, iniciativa das mais relevantes da atual gestão da Secretaria de Estado da
Ciência, Tecnologia e Inovação – SECTI, uma das joias da coroa do atual governo.
Trata-se da obra “Planejamento e Desenvolvimento do Maranhão: contexto
histórico, obstáculos e estratégias de superação”, de autoria do historiador e
educador Jhonatan Almada, atual dirigente da mencionada Secretaria. Valorizando
a obra, o estimulante e lúcido Prefácio do economista e professor da UERJ, Dr.
Elias Jabbour, intelectual respeitado nacionalmente e que tem uma admiração
comovente pela obra do genial maranhense Ignacio Rangel.
A
ideia de uma primeira biblioteca básica para o Maranhão contemporâneo, tanto em
cronologia, como em interpretação, nasceu da cabeça iluminada de Rossini
Corrêa, numa tentativa de reviver, com mais rigor e mais vigor, a tradição dos
antigos “Grupos Maranhenses”, formados por intelectuais fundadores da erudição cultural
e literária desta terra. A diferença entre a antiga biblioteca, que vem desde
meados do século XIX e a atual é o seu compromisso visceral em colocar o
Maranhão do avesso. A ideia não é continuar erigindo mitos, mas interpelar as
razões consagradas. Na perspectiva dos promotores, o objetivo é catalogar e
editar no mínimo 100 obras que ajudem a decifrar o Maranhão e seus enigmas
recorrentes, muitos deles assustadores.
Em
breve sairão mais 3 volumes, que, juntos ao primeiro, serão lançados ao
público, na ilha e no continente, em saraus concorridos, para atrair a
inteligência local e as novas gerações para mais esse importante desafio. Os
empolgados com a ideia da BBM a estão denominando de a nova enciclopédia maranhense, pois nascida da fusão das culturas
luso-afro-timbira, gestada em nosso meio faz tempo, abrindo espaço para novos cenários
e novos grupos maranhenses, dando continuidade inovadora a uma tradição
interrompida.
O volume I é um verdadeiro e inteligente
inventário sobre as origens e o processo de implementação do planejamento
governamental das políticas públicas, desde que começou no Brasil e neste Estado,
isto a partir de pouco antes da metade do século passado. O autor realiza, com
maestria, a difícil arte de sintetizar as características dos dois processos, o
nacional e o estadual, apoiado em bibliografia adequada e confiável e em fontes
primárias por ele sistematizadas.
Originalmente
um artigo técnico publicado pelo IPEA, que passou por um acabamento meticuloso,
veio a transformar-se em um conteúdo precioso e garantido sobre o papel do estado
e seus agentes na difícil e complexa arte de governar, de modo técnico e
racional, o processo de desenvolvimento nacional e de desenvolvimento estadual,
sujeitos que sempre foram a contextos marcados por disputas permanentes entre interesses
particulares e corporativos, em que as aspirações e necessidades coletivas têm
sido sobretudo tratadas como retórica.
Reconstrói
com muita lapidação os primeiros passos do planejamento estatal no Brasil e no
Maranhão, disponibilizando todos os instrumentos que foram utilizados para tal
fim, identificando falhas e razões, apontando também causas e consequências das
decisões tomadas pelos governos, indo desde a metade dos anos 1900, até o tempo
presente, traçando os contornos das iniciativas estratégicas do atual grupo
político que ascendeu ao trono em Brasília e em São Luís.
Não
há como negar que a principal ameaça à efetividade do planejamento
governamental, como estratégia para a promoção do desenvolvimento, se deve ao
fato do mesmo não dispor de um poder especial que lhe garanta autonomia para intervir
na implementação das políticas públicas. Esta circunstância acabou nivelando o planejamento
às outras estruturas da gestão pública, favorecendo a redução de sua
capacitação técnica para liderar as transformações econômicas e sociais.
Temos
afirmado, no que o autor não discorda em seu texto, que o modo como o Maranhão
tem se desenvolvido, marcado pela incapacidade dos governos oligárquicos de resolverem
os problemas sociais sob suas responsabilidades, configurou uma situação
macroeconômica em que a capacidade de investimento do estado é cada vez menor,
portanto insuficiente para provocar o crescimento sustentado das forças
produtivas e de seus arranjos.
Por não ter enfrentado com
a devida atenção o planejamento do desenvolvimento de médio e longo prazos,
sabe-se pouco sobre o que será o Maranhão quando for um estado grande. A
preocupação com o imediato, com o prazo curto, tem feito com que os governos
estaduais e municipais descuidassem dos termos de pactuação com os setores
produtivos e empresariais que se instalaram no território maranhense, sejam
multinacionais ou nacionais, levando a que pouco resultasse para a economia
local e para as finanças públicas as suas presenças físicas no estado.
As reflexões produzidas
pelo autor do livro deixam evidentes que é preciso que se supere a íntima
relação que tem havido entre o imediatismo dos governos e as formas inorgânicas
e centralizadas de gestão da administração pública. Um sistema de governo
altamente imediatista não precisa de planejamento global e permanente pois se
baseia em decisões pontuais e fechadas, sem a audiência da sociedade.
Temos afirmado que governos
que não governam para a sociedade podem se dar ao luxo de planejar o Maranhão
das suas coberturas, sem ter que ouvir as ruas, os bairros, os povoados, os
municípios ou as regiões. A consequência desse processo tem sido o atraso da
economia, da educação, da saúde, da cultura e da política maranhense, a ponto
do Maranhão, quando visto sob a ótica dos números, ostentar resultados
calamitosos, apesar de sinais da busca de superação pelos atuais governantes.
Trabalho
próximo a Jhonatan Almada faz 10 anos. Conheci-o antes disso. Acompanho o seu
desabrochar pessoal bem de perto desde então e muito me impressiona a sua
capacidade meteórica. Creio que este fato levou o Governador Dino, que também
roda na velocidade da luz, a escolhê-lo para integrar o seu projeto de
renovação e formação de uma nova camada dirigente neste Estado.
O livro que vai a lume, a
Biblioteca Básica Maranhense, a Rede Ciência Maranhão, o revolucionário IEMA, o
Centro Ignacio Rangel de Estudos do Desenvolvimento, para ficar nestas
iniciativas de grande impacto, confirmam o emergir de um dirigente sólido e de
um intelectual altamente promissor, maduro antes do tempo, que já deixa uma
marca indelével em nosso meio cultural e científico, encarando de frente os
desafios de ser reconhecido em uma era sob a influência determinante dos tempos
líquidos.
Os
sinais da surpreendência e do visionarismo do autor estão exarados em sua
festejada obra, que em breve se divulga. Com cerca de 16 anos de idade,
inquieto como seus ilustres conterrâneos caxienses do passado, o autor da obra
inaugural da coleção, elabora, e agora os publica, dois planos de
desenvolvimento, um para o Maranhão e outro para Caxias. Chegou ao requinte de
eleger os eixos temáticos, os planos, programas e projetos para cada um,
dando-se ao luxo de fixar os montantes financeiros para cada uma das políticas
a serem implantadas. O mais curioso de tudo: nos dois planos, o jovem
planejador atribui à ciência e à tecnologia um papel fulcral para o desenvolvimento
do torrão maranhense!
Em 2009 escrevi a Jhonatan
um bilhete, no qual lembrava que “Antonio Vieira reportava-se ao Maranhão como
uma cidadela (rochela) de Portugal, formada por campos de almas hereges que
precisam ser conquistadas e catequisadas. O tempo passou e o Maranhão enfrenta
uma luta tenaz para afastar o domínio dos catequéticos e administradores da
salvação. Basta ler a decantada Coluna de Domingo que ali encontramos,
cristalino, o discurso homilético na versão dos novos tempos. Pobres e resignados
maranhotos”.
Terminei o texto
aconselhando paciência e que fosse brincar o São João!
Ele não me ouviu e
continuou, sem dar tréguas, a perseguir, como um raio, o seu destino, escrito
nas estrelas: concretizar aqueles dois planos de desenvolvimento, escritos aos
16, só que agora, com muita serenidade e invejável determinação.
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