Por
Raimundo Palhano
Extraio
em Comenius, educador checo (1592-1670), a inspiração para o título deste
comentário, a respeito do lançamento do livro intitulado MARANHÃO: ENIGMAS,
DESAFIOS E URGÊNCIAS, integrante da linha editorial do Instituto Jackson Lago –
IJL, fruto de parceria técnica entre aquele Instituto e a Secretaria de Estado
da Ciência, Tecnologia e Inovação – SECTI, onde também se inclui na programação
da bem-vinda Biblioteca Básica Maranhense, que se propõe a abrir caminhos para
novas interpretações sobre o Maranhão e o seu desenvolvimento.
Na
condição de um dos participantes do coletivo de elaboradores do livro, deixo
aqui o meu reconhecimento pelos papéis decisivos que tiveram na sua materialização a senhora Clay Lago,
brava e determinada continuadora da obra do marido Jackson Lago, como
presidente do Instituto que preserva a memória do ex-governador; e Jhonatan
Almada, Secretário de Estado da Ciência, Tecnologia e Inovação do governo
Flávio Dino, talentoso e competente profissional que, cada vez mais, se consolida
como um dos melhores quadros representativos de uma nova geração de intelectuais
e gestores públicos deste Estado.
À
parte uma referência especial, completamente insuficiente em seu propósito, ao
Prefácio de Rossini Corrêa, escritor, poeta, ensaísta, filósofo, jurista e
ativista cultural, com toda certeza uma viga extremamente sólida a dar
sustentação ao conteúdo do livro, pois emanada de um dos maiores que a cultura
maranhense foi possível de produzir em todos os tempos.
“O
Labirinto do Mundo e o Paraiso do Coração” é inspirador. Foi escrito em 1623, por
Jan Amos Comenius satirizando, de forma magistral, a organização social da
época.
Uma das suas conclusões mais duras sobre a condição humana neste mundo é quando demonstra que tudo que está debaixo do Sol se resume a vaidade e insatisfação.
A
inspiração em Comenius se deve a dois eixos simbólicos, presentes em sua obra
clássica: o labirinto e a viagem. No primeiro caso é o entrecruzamento de
caminhos na busca do que deveria ser a centralidade da existência humana, que
aplicamos ao caso maranhense, questão presente na história passada e na mais
recente do Maranhão.
Quanto
à viagem é simbolizada pelo desejo de mudar os descaminhos dos seres humanos,
que transpostos para a realidade maranhense, exprimem os imperativos capazes de
colocar o Maranhão do avesso, no afã de decifrar um enigma que até hoje não foi
completamente compreendido.
A
viagem é assim o esforço que se faz, em resgatando os sonhos do governo Jackson Lago,
vítima da ira do mal, no sentido de confrontá-los às circunstâncias do momento
atual da sociedade maranhense, como tentativa de retirar as vendas que turvam
as possibilidades do desenvolvimento humano neste torrão.
Com
essas duas imagens, Comenius entendia que, para viajar pelo labirinto escuro e
não se deixar perder pelas múltiplas veredas e infindáveis desvios, só faria
sentido se fosse para atingir a unidade essencial do ser humano, não por
simples contemplação e fruição, mas para transformá-lo em um novo ser.
O
mais importante de tudo, quando se viaja, segundo o educador checo, são os dois
guias fundamentais ao viajante: a curiosidade, que descobre tudo que é oculto;
e a opinião, que ensina a compreender as coisas segundo os costumes vigentes.
Foi
este o roteiro metodológico e espiritual que me guiou na viagem que fiz, sem
deixar de reconhecer os limites do meu fôlego pessoal, desfrutando da companhia
sensível, competente e extremamente agradável de Jhonatan Almada, Aziz Santos,
Léo Costa e Rossini Corrêa, combinação preciosa de gerações profundamente
comprometidas com a política e a cultura do Maranhão, artífices e tecelões de uma
nova memória interpretativa sobre a formação social maranhense, disposta ao
diálogo firme e respeitoso com os panteões hegemônicos.
Aziz
Santos, responsável pela abordagem presente no capítulo dos Enigmas, argumenta
enfaticamente que o conteúdo temático tratado por ele deixa claro que “é
urgente revelar os avessos do padrão de desenvolvimento dominante, enfrentar a
razão patrimonialista e, sobretudo, produzir uma cosmovisão que coloque o povo
como principal beneficiário do crescimento econômico”.
Para
o ex-Secretário de Planejamento e Gestão do governo Lago “é inadiável construir
estratégias consistentes e capazes de fortalecer e dinamizar as economias
locais e territoriais, como alternativas à superação do modelo histórico, que
pouco dialoga e quase nada internaliza em termos macroeconômicos”. E conclui:
“...espero demonstrar que é preciso superar radicalmente a visão mítica e
enigmática a respeito do Maranhão e do seu desenvolvimento sustentável,
escapando de uma vez por todas das armadilhas montadas pelas explicações
oriundas dos grupos políticos e econômicos dominantes”.
Coube
a Jhonatan Almada, o muito mais novo dentre os memorialistas, o desafio de
abordar as Urgências maranhenses. O futuro que precisa nascer das urgências do
presente. Passo-lhe a palavra para que fale:
“Sem
dúvidas, boa parte do profissional em que me constituí, se erigiu dessa
experiência e passagem pelo Governo Jackson. Enxugamos as lágrimas, recolhemos
as lembranças, guardamos os sonhos e partimos. ...O mais relevante é que muitos
daqueles sonhos guardados estão sendo postos à prova no atual Governo, testados
e reconstruídos à luz das conjunturas e estruturas herdadas. Nada do que foi
será de novo, tenho plena clareza disso. ...O fundamental é sabermos as lições
aprendidas e derivadas daquela experiência, pondo-as altas e visíveis como
mapas norteadores do agir. Considero como central a percepção de que as
gerações no governo são diferentes, o programa de governo é diferente, mas o
sonhar por um Maranhão justo e desenvolvido é o mesmo”.
Como
o autor destaca na apresentação do seu capítulo, a linha mestra que presidiu a
sua interpretação foi compor análise que pontuasse de forma mais precisa
possível, quais são as urgências do Maranhão em termos de um projeto amplo de
desenvolvimento.
O
sociólogo Léo Costa fecha as cortinas do livro deixando o perfume estimulante
de sua sabedoria acumulada como político, dirigente municipal, Prefeito de
Barreirinhas por dois mandatos, intelectual criativo e estrategista singular.
Coube a ele tratar das prioridades para o desenvolvimento do Maranhão, tendo
como pano de fundo sua participação ativa na construção da visão estratégica do
governo Jackson Lago. Assim se expressa no capítulo final do livro:
“Abordo
a regionalização, o princípio da subsidiariedade, o Fundo Maranhense de Combate
à Pobreza (FUMACOP) e o projeto Águas Perenes, marcas indeléveis e distintivas
do projeto do governo Jackson para o Maranhão, alicerçado no desenvolvimento,
na inclusão social e na prosperidade para todos. Além disso, proponho a
municipalização da agricultura como um dos eixos fundamentais de um projeto
para o Maranhão, trazendo o campo e os campesinos para o centro das
preocupações e das ações do Estado, em articulação com os municípios”.
Deixei
por última a parte que me cabe no livro, no caso os Desafios ao desenvolvimento
estadual. Escolhi dez desafios, que estão longe de esgotar a questão. A razão
deriva do fato de terem sido, direta ou indiretamente, aqueles mais presentes
na esfera do planejamento do desenvolvimento e nas políticas públicas a cargo
do governo Lago.
É
um texto que mescla, propositalmente, materialidades dos estudos técnicos, do
planejamento público e da gestão, com as subjetividades derivadas dos sonhos
presentes durante o período de governo, que durou pouco mais de dois anos de
vida.
Estão
presentes análises sobre os desafios de como colocar em prática princípios como
o espírito republicano e o desenvolvimento humano efetivo; de como construir um
novo modo de governar, em contextos fortemente marcados pelo poder das
oligarquias; o desafio de implementar uma política de desenvolvimento
socioeconômica baseada na descentralização do governo; a questão de como
promover o desenvolvimento local em uma ordem internacional globalizada; o
desafio de implementar e garantir a sustentabilidade do desenvolvimento; a
capacidade de produzir e gerir a coisa pública; o desfio de despertar mentes
quietas, acostumadas a vida toda a apenas obedecer; a cidadania restringida,
consequência de um espaço público reservado aos privilégios; a reinvenção da
educação pública, a partir dos sistemas municipais de ensino marcados por
limitações estruturais profundas; e por último, o desafio de preservar o legado
de Jackson Lago como patrimônio da política maranhense e do Brasil, sobretudo
em razão das investidas das forças políticas tradicionais que sempre
pretenderam apagá-la, pela destruição da reputação do Patrono.
Encerro
este depoimento muito feliz com a possibilidade deste trabalho chegar ao
conhecimento da juventude e das novas gerações de políticos e dirigentes
sociais. Aqui está o registro impresso de uma das mais relevantes experiências
de gestão pública neste Estado, sob o comando de um dos maiores e mais dignos
políticos da História do Maranhão.
Jackson
Lago foi o passe livre que permitiu aos resistentes, sobreviventes e
inconformados se reunirem para formular projetos e utopias que poderiam tirar o
Maranhão do labirinto sombrio e fazer pulsar o paraíso dos corações.
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